Timor Leste
Capital: Díli
Moeda: Dólar dos Estados Unidos
Presidente: Taur Matan Ruak
População: 1,318 milhões (2012) Banco Mundial
Línguas oficiais: Língua portuguesa, Língua tétum
Governo: Estado unitário, República, Democracia, Parlamentarismo.
É um dos países mais jovens do mundo, e ocupa a parte
oriental da ilha de Timor, no Sudeste Asiático, além do enclave de Oecusse,
na costa norte da parte ocidental de Timor, da ilha de Ataúro, a norte, e
do ilhéu de Jaco, ao largo da ponta leste da ilha. As únicas fronteiras
terrestres que o país tem ligam-no à Indonésia, a oeste da porção
principal do território, e a leste, sul e oeste de Oecusse, mas tem também
fronteira marítima com a Austrália, no Mar de Timor, a sul. Com 14 874
quilômetros quadrados de extensão territorial, Timor-Leste tem superfície
equivalente às áreas dos distritos portugueses de Beja e Faro somadas, o
que ainda é consideravelmente menor que o menor dos estados brasileiros,
Sergipe. Sua capital é Díli, situada na costa norte.
Conhecido no passado como Timor Português, foi uma colônia portuguesa até
1975, altura em que se tornou independente, tendo sido invadido pela
Indonésia três dias depois. Permaneceu considerado oficialmente pelas
Nações Unidas como território português por descolonizar até 1999. Foi,
porém, considerado pela Indonésia como a sua 27.ª província com o nome de
"Timor Timur". Em 30 de agosto de 1999, cerca de 80% do povo timorense
optou pela independência em referendo organizado pela Organização das
Nações Unidas (ONU).
A língua mais falada em Timor-Leste era o indonésio no tempo da ocupação
indonésia, sendo hoje o tétum (mais falado na capital). O tétum e o
português formam as duas línguas oficiais do país, enquanto o indonésio e
a língua inglesa são consideradas línguas de trabalho pela atual
constituição de Timor-Leste. Devido à recente ocupação indonésia, grande
parte da população compreende a língua indonésia, mas só uma minoria o
português.
Geograficamente, o país enquadra-se no chamado sudeste asiático, enquanto
do ponto de vista biológico aproxima-se mais das ilhas vizinhas da
Melanésia, o que o colocaria na Oceania e, por conseguinte, faria dele uma
nação transcontinental.
A ilha caracteriza-se pela existência de uma crista
central montanhosa de orientação este-oeste, que divide o país na costa
norte, mais quente e irregular, e a costa sul, com planícies de aluvião e
um clima mais moderado. O ponto mais alto do país, o monte Ramelau (ou
Tatamailau), regista 2 960 metros de altitude, com quatro outros pontos a
subirem acima dos 2 000 metros: o monte Cablaque, na fronteira dos
distritos de Ermera e Ainaru (Ainaro), os montes Merique e Loelaco, na
zona oriental e o Matebian, entre Baukau (Baucau) e Vikeke (Viqueque).
Apesar de ser um país tropical, a morfologia do território contribui para
o aumento da amplitude térmica anual, que varia entre os 15 ºC verificados
nas regiões montanhosas e os 30 ºC verificados em Díli e na ponta leste do
país.
Timor-Leste possui um território de quase 15 000 km², ocupando a parte
oriental da ilha de Timor.
O país é muito montanhoso e tem um clima tropical. A
montanha mais alta de Timor é o Tatamailau, com 2 963 metros de altitude.
Com chuvas dos regimes das monções, enfrenta avalanches de terra e
frequentes cheias. O país possui mais de 1 000 000 de habitantes.5 6
Também pertencem ao território timorense o enclave de Oecussi, na metade
oeste da ilha de Timor, com 815 km², a ilha de Ataúro, ao norte de Díli,
com 141 km², e o ilhéu de Jaco, na ponta leste do país, com 11 km².
Timor-Leste possui um clima de características
equatoriais, com duas estações anuais determinadas pelo regime de monções.
A fraca amplitude térmica anual é comum a todo o território e só o regime
pluviométrico tem alguma variabilidade regional. Podem considerar-se três
zonas climáticas: a situada mais a norte é a menos chuvosa (menos de 1 500
mm anuais) e a mais acidentada, com uma estação seca que dura cerca de
cinco meses.
A montanhosa zona central registra muita precipitação e um período seco de
quatro meses. Por fim, a zona menos acidentada do Sul, com planícies de
grande extensão expostas aos ventos australianos, é bastante mais chuvosa
do que o Norte da ilha e tem um período seco de apenas três meses.
O investimento secular de Portugal na sua colônia na
Oceania não foi suficiente para a desenvolver adequadamente, tendo esta
permanecido pobre até aos nossos dias.
Foram, no entanto, construídas algumas infraestruturas de saúde, ensino e
transportes depois da Segunda Guerra Mundial. O comércio de sândalo, uma
das principais mercadorias do território perdeu importância e a sua única
fonte de rendimento passou a ser uma modesta produção de café.
A contribuição dada pela Indonésia na construção de infraestruturas foi
superior ao de Portugal, apesar de corresponder também a interesses
próprios, como o do transporte mais rápido das tropas ou da absorção
sócio-cultural indonésia e descaracterização da cultura própria timorense.
No entanto, grande parte das edificações foi destruída pelas milícias
pró-indonésias no período que se seguiu à declaração de vitória dos
independentistas: bancos, hotéis, escolas, centros de saúde, entre outros.
A já débil economia timorense foi completamente arrasada, tendo ficado
dependente totalmente da cooperação internacional para a sua reconstrução.
A moeda oficial timorense é, desde 2000, o dólar dos Estados Unidos.
Cultura e
Tradições Timorenses
A cultura de
Timor Leste reflete inúmeras influências culturais, incluindo Português,
Católica Romana e malaio, nas culturas indígenas austronésias de Timor.
A lenda diz que um crocodilo gigante foi transformada em ilha de Timor,
ou Ilha do crocodilo, como muitas vezes é chamado.
A cultura de
Timor Leste reflete inúmeras influências culturais, incluindo Português,
Católica Romana e malaio, nas culturas indígenas austronésias de Timor.
A lenda diz que um crocodilo gigante foi transformada em ilha de Timor,
ou Ilha do crocodilo, como muitas vezes é chamado.
Como a Indonésia, a cultura de Timor Leste tem sido fortemente
influenciado por Austronesian lendas, embora a influência católica é
mais forte, a população ser de maioria católica.
O analfabetismo ainda é generalizado, mas há uma forte tradição de
poesia. Quanto à arquitetura, alguns edifícios de estilo Português pode
ser encontrada, embora as casas totem tradicionais da região leste,
conhecida como uma lulik também sobreviver. Artesanato também é
generalizada, como é a tecelagem de mantas tradicionais ou Taís.
Literatura
Facilmente o mais famoso autor do leste timorense é Xanana Gusmão, o
líder da resistência timorense organização da Fretilin, e agora o
presidente do Timor Leste independente. Ele escreveu dois livros durante
a luta pela independência. Também poeta e pintor, ele produziu obras que
descrevem a cultura, valores e habilidades do povo timorense.
Outros escritores importantes de Timor são: Fernando Sylvan, Francisco
Borja da Costa, Ruy Cinatti, e Fitun Fuik.
Música
Música de Timor Leste reflecte a sua história sob o controle de Portugal
e Indonésia, que tenham importado música como gamelan e fado.
A forma mais comum de música folclórica nativa era a dança likurai,
realizada para as mulheres para receber homens em casa depois da guerra.
Eles usaram um pequeno tambor e por vezes realizadas cabeças de inimigos
em procissões pelas aldeias; uma versão moderna da dança é usada por
mulheres em namoro.
Na era moderna, a música timorense tem sido intimamente associado com o
movimento de independência, por exemplo, a banda de Dili All Stars
lançou uma música que se tornou um hino na preparação para o referendo
sobre a independência em 2000, enquanto a Organização das Nações Unidas
encomendou um canção chamada “Hakotu Ba” (por Lahane) para incentivar as
pessoas a se registrar para votar no referendo.
Músicos timorenses populares incluem Teo Batiste Ximenes, que cresceu na
Austrália e usa ritmos folclóricos de sua terra natal em sua música. Com
muitos timorenses em comunidades emigrantes na Austrália, Portugal e em
outros lugares, a música folclórica do leste timorense foi levado a
muitos lugares ao redor do mundo. Os campos de refugiados em Portugal
misturados música timorense com estilos de outras colônias portuguesas,
como Angola e Moçambique.
A guitarra tem sido uma parte importante dos timorenses musc, embora
seja uma importação trazido pelos colonizadores, há, no entanto, os
tipos nativos de instrumentos de corda semelhantes em alguns aspectos
para a guitarra. Influências estrangeiras também incluem estilos
populares da música como rock and roll, hip hop e reggae.
Religião
Timor Leste tem sido nominalmente católica desde o início do período
colonial Português. A fé católica tornou-se uma parte central da cultura
timorense durante a ocupação indonésia, entre 1975 e 1999. Embora sob o
domínio Português, os timorenses tinham sido principalmente animista,
por vezes integrados com ritual católico mínimo, o número de católicos
aumentou dramaticamente sob o domínio indonésio.
Esta foi, por várias razões: a Indonésia era predominantemente
muçulmana, o Estado indonésio necessária a adesão a uma das cinco
religiões reconhecidas oficialmente e não reconhecer as crenças
tradicionais, e porque a Igreja Católica, que ficou responsável direto
para o Vaticano durante o regime indonésio, tornou-se um refúgio para
timorenses em busca de refúgio da perseguição.
O ‘Administrador Apostólico “(de facto Bispo) da Diocese de Dili, Dom
Martinho da Costa Lopes, começou a falar contra os abusos dos direitos
humanos pelas forças de segurança indonésias, incluindo estupro,
tortura, assassinato e desaparecimentos. Após pressão de Jacarta, que
deixou o cargo em 1983 e foi substituído pelo jovem padre, monsenhor
Carlos Felipe Ximenes Belo, que a Indonésia pensei que seria mais leal.
No entanto, ele também começou a falar, não apenas contra os abusos de
direitos humanos, mas a questão da auto-determinação, escrevendo uma
carta aberta ao Secretário-Geral das Nações Unidas, apelando para um
referendo. Em 1996, ele foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz,
juntamente com líder exilado José Ramos Horta, agora ministro das
Relações Exteriores do país.
Apesar das acusações por parte do regime de Suharto que o movimento de
independência de Timor Leste, a Fretilin, era comunista, muitos de seus
líderes havia treinado para ser sacerdotes, e sua filosofia
provavelmente se deveu mais à teologia da libertação católica da América
Latina do que para o marxismo.
No entanto, apesar de a maioria da população do país está agora a ser
católicos, há liberdade de religião na nova república, e do
primeiro-ministro Mari Alkatiri, é um muçulmano de ascendência iemenita.
Depilação
Outro ponto interessante da cultura é que é dever para mulheres adultas
(a partir de 15 anos de idade) em Timor Leste para remover todos os
pêlos do corpo (além de sua cabeça).
Fonte: easttimorgovernment.com
A ilha de Timor, longa e estreita, com a forma semelhante a um
crocodilo, segundo uma das lendas de Maubere, está inserida no
arquipélago indonésio, situada a menos de 500 quilómetros da Austrália.
Encontra-se dividida em duas partes distintas: a metade ocidental, sob o
domínio indonésio, mas onde ainda estão patentes as influências da
precedente colonização holandesa, e a zona oriental, hoje independente,
com referências predominantemente portuguesas.
Nesta ilha, as tradições raramente permaneceram estáticas, e novas
ideias e técnicas, algumas provenientes de ilhas longínquas, foram ao
longo dos séculos absorvidas e reinterpretadas, para dar resposta a
novas situações sociais e económicas.
Etnograficamente, os timorenses dividem-se em dois grandes grupos: o
Atoni da Melanésia e o Tétum do Sul de Belu, que se pensa originário de
Malaca.
No caso específico de Timor-Leste, torna-se muito difícil identificar e
territorializar os vários outros grupos étnicos. Ainda, nos dias de
hoje, se encontra uma grande diversidade cultural e linguística,
proveniente das antigas guerras internas e das consequentes integrações
de subgrupos em outros grupos étnico-linguísticos.
Tal diversificação é transposta para os têxteis, em termos de cores,
motivos e técnicas usados na tecelagem. As diferentes línguas
dificultam igualmente o estudo dos tecidos, devido à multiplicidade de
termos aplicados a um mesmo utensílio ou técnica. É preciso entender que
apesar de Timor-Leste se encontrar dividido em treze distritos, as
diferentes línguas remontam a perto de quinze e distribuem-se de uma
forma esparsa e errática por todo o território.
No entanto, a necessidade de comunicação, especialmente para fins
comerciais, originou a eleição do tétum língua nativa dos Belus,
divulgada pela sua conquista da parte leste da ilha de Timor como língua
franca.
O significado
dos têxteis
Os têxteis de Timor, tal como nas outras sociedades da Indonésia, têm um
papel muito importante nos rituais das comunidades, e, ao serem criados
por grupos de etnias diferentes, podem distinguir–se uns dos outros,
quer em estilo e nas técnicas utilizadas, quer no seu significado
cultural.
Os têxteis que saem dos teares não são destinados prioritariamente a
serem usados, excepto quando já estão gastos ou quando de cerimónias que
celebram as várias fases da vida de um indivíduo: apresentação de um
recém-nascido, dia de iniciação na caça de um jovem guerreiro,
casamento, enterro, etc.; ou em certos rituais que se prendem com as
tradições do grupo: inauguração de uma casa, etc.
Em todas estas cerimónias está implicado o indivíduo, a linhagem, a
família e a etnia ou grupo em que ele se encontra inserido, e é aqui que
os têxteis ganham uma importância relevante, como produtos de troca nas
relações sociais e económicas, assegurando a sobrevivência da linhagem
e do grupo.
As fibras e as
tingiduras
Os vários processos de fiação e tecelagem têm lugar essencialmente
durante a estação seca. São actividades femininas, muito valorizadas
pelos membros masculinos e femininos de cada grupo, inteiramente
conscientes da importância dos têxteis nas relações mencionadas
anteriormente.
A principal fibra utilizada é o algodão, e onde ele é cultivado a
fiação manual é ainda comum, especialmente para têxteis que possuam um
carácter especial.
Também aqui se pensa que Portugal teve alguma influência na expansão e
popularidade do algodão, quando no século XVII estabeleceu um comércio
significativo desta fibra natural, tornando Timor num centro conhecido
para a troca deste produto, já nos finais do século XVIII, em que o
cultivo desta planta atingiu o seu apogeu.
O algodão comercializado e fios pré-tingidos encontram-se com facilidade
nos mercados regionais, assim como corantes químicos. A cidade de
Lospalos, por exemplo, é conhecida pela sua produção têxtil, utilizando
o fio comercializado e corantes químicos.
As fibras sintéticas têm, consistentemente, feito a sua intrusão nos
têxteis, e hoje é possível adquiri-las na maioria dos mercados
regionais: rayon, acetato, acrílico e polyester, para além de fios
metálicos, na maioria dourados (antigamente obtidos, nalgumas regiões, a
partir da fundição de moedas holandesas).
Contudo, as tingiduras naturais são muito usadas em toda a ilha, e
nesta, mais do que em qualquer uma das outras do arquipélago, o
vermelho é a cor dominante. A explicação para este facto não é clara.
Embora existam alguns autores que apontam para uma inspiração a partir
do tom das buganvílias em flor durante a estação seca, esta cor, para
muitas comunidades timorenses, está tradicionalmente associada à vida,
ao sangue e à coragem.
Timor tornou-se conhecido pelas cores vivas dos seus têxteis, embora
essa não seja uma característica comum em todo o território de
Timor-Leste. A maior parte das cores oriundas de corantes naturais
provém essencialmente de três fontes, todas elas fáceis de obter em
qualquer região da ilha. São as seguintes:
Taun
Arbusto de cujas folhas se extrai uma tinta, que vai do tom azul-escuro
ou esverdeado-escuro até ao preto. Uma vez colhidas, as folhas são
esmagadas com um pilão. Numa das receitas mais populares, a esta pasta é
adicionada água e cal, que reage com as folhas tornando o tinto mais
escuro e permanente.
A cal, aqui misturada, quando escasseia comercialmente, pode ser obtida
a partir da trituração de conchas e búzios. Esta mistura pode repousar
assim vários dias, com os fios imergidos na solução, consoante o tom
mais claro ou mais escuro pretendido, dentro da gama dos azuis-escuros e
verdes-escuros. O tom preto, por exemplo, necessita de cerca de uma
semana.
Kinur
Trata-se da planta bulbosa açafrão, cujos estigmas são empregados para
tingir. Estes estigmas, uma vez extraídos, são reduzidos a pó e
misturados com mais ou menos água consoante o tom mais claro ou mais
forte que se pretende. Posteriormente deixa-se esta solução repousar com
os fios dentro, pelo menos um dia, duração esta que se prende igualmente
com a vivacidade do tom que se quer obter. Consoante as receitas
seguidas, consegue-se todas as tonalidades que vão dos amarelos mais
pálidos até aos laranjas mais fortes.
Teka
Árvore da teca. As folhas tenras desta árvore são retiradas e esmagadas
com um pilão. A esta pasta adiciona-se mais ou menos água consoante o
tom mais rosa ou avermelhado que se pretende. Dependendo da receita e da
quantidade de dias que se deixam os fios imergidos nesta solução, é
possível obter tons de rosa e vermelho, de uma maior ou menor
luminosidade e vivacidade.
Algumas das soluções supracitadas ainda são cozidas em panelas de barro.
A imagem do bom tingidor, visto à semelhança de um alquimista medieval,
aplica-se em certas regiões de Timor. Toda a tecedeira acaba por ter o
seu segredo da receita para obter o tom que pretende, seja ele castanho,
azul, verde, amarelo ou rosa.
O processo de tingimento pode levar de dois a três dias a alguns meses,
dependendo da complexidade do tom e do número de cores que têm de ser
misturadas. As receitas acima descritas são das mais simples, podendo
algumas atingir graus de elaboração elevados, consoante lhes são
adicionados mais produtos naturais, que vão funcionar, por exemplo, como
fixadores da cor ou mordentes, ou se trata de corantes naturais cuja
obtenção da cor não é possível através da adição de água, mas sim de
soluções alcalinas.
Os fios que são para tingir numa determinada cor que necessite de um
mordente têm de ser imergidos numa solução de óleo de candlenut ou de
sementes de tamarindo, aproximadamente durante uma semana.
Estes processos de tingidura também podem ter lugar em várias fases do
trabalho de tecelagem, e não só no início, como se vai poder constatar,
quando da descrição das técnicas de tecelagem. Uma das perdas a nível
cultural tem sido o fato destas receitas se estarem a perder, pois eram
transmitidas de mãe para filha, sem que exista qualquer outro registro.
A fiação
Uma vez apanhado o algodão da planta, ele é descaroçado, ou ledu em
tétum. Para tal, são utilizados uns utensílios denominados fatu-ledu,
que são descaroçadores, feitos com dois cilindros em madeira, entre os
quais passa o algodão a descaroçar ou, numa situação mais precária, com
uma vareta de bambu que roda fazendo pressão num fragmento de casca de
tartaruga.
Posteriormente o algodão é cardado, seguindo-se a fiação através da
técnica de torção.
O fio assim obtido pode ter vários destinos nesta fase: ou é dobado em
meadas para ser em seguida tingido, refeitas em novelos, e por fim
tecidos nas faixas de cor lisa; ou é feito em novelos, que vão originar
as meadas, onde, uma vez colocadas numa armação apropriada, a tecedeira
inicia a técnica do ikat, antes da tingidura.
Os teares
tradicionais
O fabrico das armações, onde é executada a técnica do ikat, e teares,
está geralmente a cargo dos homens. Complexos de serem entendidos no seu
funcionamento, possuem, na esmagadora maioria dos casos, um aspecto
muito rudimentar.
A armação para a execução do ikat assemelha-se a uma estrutura de pouco
mais de quatro paus de madeira, dispostos em forma de moldura, onde, com
a ajuda de outros paus estreitos e amovíveis, as meadas são esticadas
escrupulosamente. Uma vez os fios paralelos uns aos outros, a tecedeira
inicia o seu minucioso trabalho de atar, cobrindo pequenas porções de
vários fios, de maneira a formar um desenho, só visível bastantes dias
mais tarde, após o tingimento e novo esticamento das meadas na teia.
Os teares, bem mais complexos nos seus componentes, mas igualmente
rudimentares, são teares de cintura (teares sustentados através de uma
tira que passa atrás das costas da tecedeira). Estes obrigam as
tecedeiras a trabalhar sentadas no chão de pernas estendidas, geralmente
em esteiras por elas elaboradas, esticando o próprio tear e a teia, com
a tensão exercida pelo seu corpo, através de uma cinta que ela faz
passar nas costas, na zona lombar.
Este tipo de tear permite trabalhar com uma teia contínua que, com a
técnica de tecelagem utilizada nesta região, produz tecidos com o mesmo
aspecto e desenhos em ambos os lados, ou seja, não existindo direito e
avesso.
Técnicas de
tecelagem
Timor é reconhecido não só pela qualidade dos seus têxteis, mas também
pelas diferentes técnicas decorativas. O Warp-faced Ikat (ikat em teia,
onde predominam os fios da teia sobre os da trama) é praticado em todas
as regiões, sendo uma das técnicas principais e a com maior relevo,
devido às suas características estarem fortemente associadas a esta
ilha e não a outras do arquipélago. Nem na língua portuguesa, nem em
tétum, existe uma palavra ou pequeno conjunto de palavras que traduzam
de forma exacta esta técnica.
A técnica do ikat (atar antes de tingir), que pode ser executada nos
fios da teia ou de trama, em Timor-Leste, aparece unicamente nos fios
da teia. Este processo decorativo usa-se para reproduzir desenhos, a
partir de cartões com os motivos executados em cestaria ou, mais comum
nos dias de hoje e por influência dos portugueses, a partir dos
desenhos em papel destinados a serem reproduzidos em crochet. Nesta
arte, os fios de algodão, ainda na sua cor original, são estendidos na
armação de ikat, tal como foi mencionado anteriormente.
A tecedeira, seguindo o desenho, vai atando com tiras vegetais secas ou
ráfia os vários fios, cobrindo áreas que correspondem ao motivo. Uma
vez terminado, as meadas são retiradas da armação e são tingidas na cor
pretendida. As secções que estão unidas resistem ao corante. Após o
tingimento e antes da tecelagem, os fios são tratados com uma solução de
tapioca e água para os endurecer, tornando portanto mais fácil a
tecelagem do padrão, que se quer apertado e nítido.
As secções atadas são então desfeitas e o desenho surge na cor original
do fio, recortado pela nova cor tingida.
Uma vez tecidos os fios da teia, com um único fio de trama de uma só
cor, são lavados em água fria diversas vezes, para amaciar o pano,
dissolvendo-se assim a solução que o endureceu. Os corantes são
preparados com tal cuidado e perícia que, neste processo, não se observa
virtualmente nenhuma perda de cor. O aspecto final dos tons do pano é
suave e subtil, quase esbatidos, com motivos em ikat que parecem um
negativo da cor natural dos fios.
Exemplos de motivos tradicionais podem ser encontrados feitos totalmente
em ikat tingido quimicamente, com o motivo a preto num fundo encarnado
vibrante, laranja ou amarelo.
O Warp-faced ikat é quando esta técnica é aplicada apenas aos fios da
teia antes de estes serem tecidos.
Como complementos, encontramos outras técnicas decorativas singulares de
Timor, que são os sotis passagem suplementar na teia, tecida de forma a
parecer reversível , e buna trama suplementar descontínua, que dá o
aspecto de um bordado. Qualquer destas técnicas, tal como foi mencionado
anteriormente, varia muito de nome conforme a região da ilha, embora o
processo de execução seja o mesmo.
A tecelagem é feita por tecedeiras que vivem nas comunidades locais,
onde elas e as suas famílias são responsáveis por todo o processo, desde
a preparação dos fios à operação de atar as linhas para formar o
desenho, ao tingimento dos fios culminando com a tecelagem dos panos. A
produção inclui muitas vezes a combinação das técnicas de ikat e sotis
(passagem suplementar na teia).
Embora o vestuário ocidental seja largamente usado no dia-a-dia, os
têxteis locais ainda têm um significado muito importante nos rituais que
celebram as mudanças das várias fases da vida ou o status social, nos
rituais anímicos ou outros que se prendem com a agricultura.
Nas cerimónias, os homens vestem panos rectangulares, denominados tais
mane, compostos por dois ou três painéis cosidos entre si, que envergam
à volta da cintura, e as mulheres vestem tais feton (sabulu)
semelhantes, mas cosidos numa forma tubular, para assentar justo ao
corpo, usados à volta da cintura ou atravessados na zona do peito,
apenas com uma prega em baixo para permitir o movimento.
Pequenas faixas, ou lenços, são populares como elementos de troca ou
presentes, assim como cintos, malas para shiri ou bétel (estimulantes
vegetais mastigáveis) e peças para a cabeça. Todos estes elementos, de
um modo geral, são decorados com sotis ou buna em vez de ikat.
Ambos os tais, para além de serem usados nas cerimónias, rituais
religiosos e festas, constituem igualmente presentes muito apreciados
para dar e trocar entre os membros da comunidade.
Os padrões e os motivos têm um grande significado para os timorenses,
tanto para aqueles que tecem como para os que vestem os tais.
Por toda a ilha, os motivos continuam a ser tradicionais na sua origem.
Estes evocam maioritariamente os animais e elementos da natureza,
directamente associados aos mitos e aos ritos tradicionais: figuras
antropomórficas com os braços e as mãos esticados são comuns, assim como
representações zoomórficas de pássaros, galos, crocodilos, cavalos,
peixes e insectos de água.
Plantas, árvores (origem da vida e centro do mundo), e folhas, também
surgem de uma forma consistente. Os desenhos geométricos, semelhantes a
ganchos e losangos, localmente conhecidos por kaif, são de um modo geral
interpretações da cultura Dong-Son.
Estes motivos foram todos herdados dos antepassados, e, tal como as
receitas, transmitidos de mãe para filha. Os desenhos são sistemas de
reconhecimento de uma linguagem cultural e representam os mitos
ancestrais de todo o grupo e os seus símbolos. Mesmo quando estes
motivos não podem ser associados a qualquer simbologia cultural,
representam sempre mais do que uma mera decoração, como por exemplo o
prestígio do indivíduo que enverga o tais, a sua posição na escala
social, etc.
Em Timor-Leste existe sem dúvida uma maior variedade regional, ao nível
da tecelagem, do que em Timor Ocidental, mas, devido à instabilidade que
se viveu na parte oriental da ilha, esta arte nunca conheceu um grande
desenvolvimento, nem um estudo profundo, aliado ao facto de até hoje
Timor-Leste nunca se ter afigurado como um aliciante destino turístico.
Timor-Leste está dividido em treze distritos: Oecússi, Covalima,
Bobonaro, Liquiçá, Ermera, Ainaro, Manufahi, Díli, Aileu, Manatuto,
Viqueque, Baucau e Lautém. Estes distritos podem ser usados para
comparar semelhanças e diferenças nos têxteis.
Essencialmente, a tecelagem contemporânea de Timor é tradicional no seu
estilo ou de cariz comercial. Muitos destes têxteis podem ser
encontrados em mercados locais, nas capitais dos distritos.
Em Oecússi, o pequeno enclave de Timor-Leste no interior de Timor
Ocidental, o pano tradicional da região é o tai mane, com um grande
painel central, executado em ikat, tanto em preto e branco, como em
preto e laranja ou preto e amarelo.
Os grandes e elaborados motivos são, de uma forma geral, florais ou de
inspiração religiosa, de certa forma semelhantes aos que também são
encontrados na região de Sikka, na ilha das Flores. É, sem dúvida
alguma, neste distrito, que a influência dos portugueses, nos motivos
usados nos tais, se faz mais sentir. Embora os panos compostos de dois
painéis pareçam simétricos, um painel é de facto mais estreito do que o
outro.
Em Díli, os tais têm um cariz mais comercial e surgem com cores vivas e
faixas muito estreitas em ikat, intercaladas com muitas outras estreitas
riscas em cores sólidas. São usados o fio de algodão importado e
corantes químicos, mas o processo meticuloso de elaborar o desenho
através do atamento das linhas e tingimento do padrão nos fios, segue o
método das vilas mais remotas.
Na vila de Balide, a cerca de meia hora de carro de Díli, são usados os
fios previamente fiados e corantes químicos, assim como os fiados à mão
e corantes naturais.
Em Ermera, a tecelagem manteve-se relativamente inalterada, de acordo
com as preferências do povo local. É o único distrito onde os tais não
são coloridos e têm um significado e aspecto especial, diferente de
todos os outros da ilha. São, na sua totalidade, taismane, executados
essencialmente em preto, com pequenas passagens ou subtis desenhos em
ikat, executados em branco.
Tal fato prende-se com Ermera ter sido sempre um dos distritos onde
habita um dos reis mais importantes da estrutura administrativa
tradicional timorense. A cor preta está associada à realeza e nobreza,
e, como tal, ela só predomina nos outros distritos onde também habitam
reis ou régulos, como Bobonaro e Ainaro, embora aqui com menor
importância do que Ermera.
No distrito de Manufahi aparecem desenhos de animais realizados em ikat,
nomeadamente o lagarto-do-mar, ou o porco, que se reveste de alguma
importância, não sendo a sua carne consumida por alguns dos grupos
oriundos desta região.
Em Covalima surgem os motivos mais tradicionais, como o gancho
estilizado ou os animais, como o crocodilo, que alguns grupos veneram.
No todo, a produção de ikat parece menos extensa do que em Timor
Ocidental, mas sotis e buna continuam a ser técnicas predominantes. As
cores de fundo usadas para o ikat, quando não é o branco, são o
vermelho, o laranja e o amarelo, a contrastar com o preto. Possivelmente
devido à influência portuguesa que acabou por deixar marcas relevantes
na vivência nesta metade da ilha, os motivos florais de inspiração
europeia, assim como os de inspiração religiosa, são os mais evidentes,
suplantando os motivos do gancho e do losango que encontramos em Timor
Ocidental. |